quarta-feira, 16 de maio de 2012

Herói nas Ruas

Poema do GARI

Eu sou o mensageiro da limpeza
E o meu trabalho não me dá moleza                                           
Sou eu que escavaco e varro a podridão
Com o suor de minhas próprias mãos
Em companhia dos meus garis-irmãos
Capino praças, ruas e jardins,
Numa jornada que não tem mais fim.



Com uma vassoura, uma carroça e uma pá,
Vou me movendo pra todo lugar,
Onde a carniça possa se encontrar
Onde a sujeira possa se alojar
Debaixo de sol e da chuva,
Sem mascara e sem luvas.
Estou quase sempre sujo
Meu corpo melado de fezes,
Fedendo mais que um gambá

Eu sou a água sanitária, eu sou o atleta,
Vigilante e sempre alerta
Que corre atrás do coletor.
Recolhendo de porta em porta
O lixo do pobre e do doutor.

De domingo a domingo como sina
Correndo por ruas e esquinas
Trabalhando sem interrupção
Pendurado como um carrapato
A porta de um caminhão.

Sem segurança e sem proteção
Pego com as minhas mãos nuas
Toda a sujeira das ruas
Exposta aos vermes em podridão.
E disso trago assim como um atestado
Em minha pele vermes bordados
Todos os grandes germes tatuados.
A escarrarem a minha condição.

No dia a dia de todo esse reboliço,
Vou cumprindo com esse meu compromisso
Engulindo com cachaça o desespero,
E fazendo da carniça o meu tempero.

E você cidadão quase não me vê
Quando passo nas ruas a recolher
O lixo mau cheiroso em sua porta
É que talvez eu nem me faça perceber
Mas isso também pouco importa.

E por mais que possa ser incrível
Eu pra você sou invisível
Não importa se sou homem
Ou se sou mulher
Para você eu talvez seja assim
Como um bicho qualquer,
Ou como um depósito de lixo,
Atirado em qualquer terreiro
Talvez seja por isso
Que me chamam de lixeiro.

                       (Fernando Enéas de Souza)

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